O mundo e nós
À entrada para o último trimestre, pode dizer-se que 2024 revela-se, para o mundo, um ano mau, muito pelos efeitos das guerras na Ucrânia e no Médio Oriente – as quais fazem esquecer conflitos que grassam por outras zonas do globo, nomeadamente em África e na Ásia.
As consequências dessas guerras na economia e no desenvolvimento eram esperadas: instabilidade a todos os níveis e não apenas nos mercados, inflação, juros altos para combater a subida dos preços (uma receita de que muitos duvidavam mas que se vem mostrando eficaz).
Os bancos centrais, designadamente o BCE e a FED, portaram-se bem desta vez, a inflação está controlada, os juros estão a descer (Lagarde e Powell mantêm-se cautelosos…), os mercados vêm recuperando, embora com sustos.
Há, no entanto, nuvens negras ao longe, a ensombrar estes dias “radiosos” em termos económicos. A Ucrânia e Gaza estão aí, as destruições prosseguem, a radicalização acentua-se, as guerras estão para durar. As tácticas do dia-a-dia, com a sua linguagem bélica, impõem-se às estratégias concertadas que poderiam conduzir a cessar-fogos e a consequentes planos de paz.
E, depois, há a incógnita das eleições norte americanas de Novembro, cujos resultados, é sabido, têm implicações mundiais.
Ora, sabendo-se, como se sabe, das debilidades da Europa face aos outros blocos económicos, qualquer optimismo relativamente ao futuro próximo seria descabido.
E Portugal? Bom, no contexto global, Portugal não conta, ou conta muito pouco, em termos de contrariar as tendências que se observam.
Sujeitos às normas ditadas de fora, sobretudo a partir de Bruxelas, ainda temos alguma margem de manobra orçamental, uma certa capacidade fiscal e por aí.
E o que temos feito? Na linha de velhos procedimentos, assiste-se ao anúncio de grandes planos, de vistosas obras, de interessantes reestruturações.
Quanto às decantadas “reformas estruturais” (pelas quais O ECONOMISTA pugnava já em 1988…), continuamos a esperar… Enfim, o turismo, sempre o turismo, faz esquecer que Portugal é um país pobre, que as cedências capazes de “comprar a paz nas ruas” podem conduzir a tempos vividos no início da última década, e que não devemos, não podemos, esquecer…
ARG